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A Veja não mudou nada quem mudou foi eu! Sobre o caso Marcela Temer.

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Então, a polêmica, digo piada,  da semana que passou foi uma artigo sobre a vida da “quase primeira-dama” do Brasil, a moça casada com Michel Temer. Sinceramente, nada contra essa moça. Acho digno que você escolha sua vida e os passos a tomar, mesmo porque acredito em um feminismo onde a mulher tem o direito, de por escolha consciente e digna, viver sua vida e seus planos mesmo que isso traga uma repulsa a mim, eu preciso aceitar. Talvez as minhas escolhas também tragam repulsa a muitas pessoas por ai. O caso ali, é que a escolha de Marcela Temer é uma escolha baseada historicamente em um comportamento social típico de uma sociedade patriarcal, conservadora onde a mulher muitas vezes é uma peça negociável entre famílias. De qualquer forma, esse parâmetro de amor e casamento não é criminoso e nem ilegal, repito, desde que seja de conformidade da mulher. Quando uma mulher como eu se recusa a fazer parte deste “ritual colonial social” , somos de certa forma, mulheres – e porque não homens também? – revolucionárias que nos propusemos a inserir na prática as mulheres em outros espaços que não aqueles impostos pelos sexismo, conservadorismo, modelo único de comportamento feminino.

Em outro viés, tem a questão da revista Veja, rs. Ela atende uma parcela da sociedade, que romantiza esses tipos de casamento ou escolha para vida. Veja, por exemplo, a classe média( uma grande parcela)  romantiza sobre viver a vida construída por Manoel Carlos em seu universo Helena da Globo. A classe média brasileira, tem tudo para ser revolucionária, mas ela está presa nos inúmeros padrões ainda romantizados pela mídia e pelos “contos de fada midiático” onde vemos um eterno príncipe acolhendo, salvando, e conduzindo a eterna princesa. Tenho visto Hollywood se manifestando contra essa ideia. Shrek é um exemplo de animação que inverteu os padrões romantizados e fez a princesa virar ogro. Achei isso fantástico do ponto vista estético.

Ainda sobre a revista Veja, talvez nem ela acredite nessa fantasiosa romantização do casal perfeito, mas para atender aos anseios canalhas de parte da classe média raivosa e ignorante ( raiva + ignorância = perigo), elite e até mesmo  anseios políticos ela publica em uma trama jornalística o  “Vale Tudo em tempos do cólera”. Sinceramente não vejo nada ali de diferente do que a classe média e pobre  anseia,  um “casamento marido- sustentável” com um “homem que te leva pra jantar em um lugar chique”. Se você assiste novela mexicana, sabe que todas as mocinhas acharam um homem que as concedesse esse “privilégio”. A grande inimiga era sempre a outra que queria o mesmo, mas era má e fazia de tudo para estragar o romance com a queridinha bela recatada e com tendências a do lar. Veja as Marias do SBT, Os ricos também choram e etc. Então, qual a novidade do caso Marcela Temer? A Veja não mudou nada, quem mudou fomos nós.

Quanto ao Brasil, vide todas as novelas da rede Globo e agora Record também, mesmo que não seja o casal principal da trama, sempre haverá essa mulher. Esteticamente ela até pode apresentar características da  “Malu Mulher”, mas em nome do amor romantizado, da alegria e da trama, casais devem ser felizes “juntos”. Em um romance ou novela, parece- me que a ditadura da felicidade “JUNTOS”, não dá espaços para  quem é feliz sem filhos ou totalmente só. É como se a felicidade fosse unicamente consequência de estar acompanhado de alguém. Em geral, o modelo de felicidade é heterossexual, rico, bonito – leia-se magros e belos dentro da perspectiva estética que vende – e exclui qualquer outro modelo não romantizado.

De qualquer forma, a história de amor de Marcela Temer e seu cotidiano não atende em nada minha perspectiva de vida, mas a respeito. A Veja, fez seu papel diário de jornalismo fútil atendendo a uma parcela desvairada da classe rica, média e pobre ignorante (acredito que há pensantes de senso crítico na população) e a polêmica com ares de provocação, gerou uma resposta provocativa também, mostrou que as mulheres estão unidas, e atentas a qualquer tipo de imposição ideológica. É como se disséssemos não há anos de tortura ideológica, padrões estabelecidos como únicos e verdadeiros. Gosto disso e creio sim que a mulherada está dando um show de participação política e social. Faço parte disso, desde que me senti oprimida venho lutando contra isso. Crescer em uma Igreja conservadora onde não escandalizar o próximo é uma lei, me fez forte e dona da meu corpo e da minha história e com uma vontade imensa de construir uma opinião. Eu tinha 12 pra 13 anos.

Estamos nesta luta com a certeza de que sabemos exatamente qual é o nosso papel e nossos espaços. Ele é onde eu quiser!

Obs. Acredito em humanos e em amor, especialmente em loucuras de amor. Também acredito na imperfeição do relacionamento entre dois humanos que se amam.

Sou gorda e bem comida. Obrigada.11141141_1093125540703306_8525267928240176236_n